Saúde mental em tempos de Pandemia
- Viviane Mariz Alencar
- 17 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Como você se sente com esse novo modo de viver?
De um dia para outro tivemos que nos adaptar a uma nova situação, foi necessário adiar alguns sonhos e objetivos que prometemos na virada do ano, fomos forçados a nos manter distantes daqueles que amamos, o que para muitos de nós é motivo de muita angústia.
Os seres humanos são seres sociáveis, precisamos do contato com o outro, do olhar, da aprovação, do abraço, do beijo, do carinho. Por isso a quarentena é uma experiência desagradável, porque nos obriga a romper com o que é conhecido para nós, nossa rotina, nossas relações. Fomos obrigados a aprender a nos relacionar de uma maneira diferente com nossos colegas de trabalho, amigos e familiares.
Todas essas mudanças podem gerar efeitos psicológicos sobre nós, suscitando grandes medos, angústias e tristezas.
É provável que, em alguns momentos, nosso estado emocional mantenha-se estável, mas quanto mais se prolongue essa situação mais desconfortos emocionais podem surgir, como tristeza, problemas de sono, solidão, frustração, culpa, sentimento de impotência, tédio, raiva, irritabilidade, estresse, cansaço generalizado, sendo o medo e a ansiedade as emoções mais intensas nesse período de COVID-19. Alguns estudos já até apontam um aumento nos sintomas de depressão e ansiedade em diversos países.
Essas emoções são consequências das incertezas, do desconhecido, o não saber quando e como tudo isso vai passar, das perdas sentidas de distintas formas, como perda da liberdade, da escolha e de entes queridos.
Esses sintomas e emoções atingem de forma especial os profissionais da saúde, visto que são os mais expostos ao vírus e podem vir a sofrer os sintomas de forma mais intensa que o público em geral.
Outro grupo atingido, são as pessoas afetadas pelas repercussões econômicas devido a perda de emprego, as dificuldades em pagar as despesas, o que pode afetar de maneira significativa o emocional das pessoas, inclusive mesmo depois da quarentena.
As crianças também estão mais vulneráveis aos efeitos dessa situação, não poder ir à escola, – o que para muitos é a única forma de socializar-se com outras crianças - ter sua rotina prejudicada, seus estudos interrompidos, para alguns pode levar a um desconforto emocional que muitas vezes não conseguem nem nomear.
À medida que os dias passam, estas emoções podem variar e até se tornar mais intensas, porém é importante saber que todas essas emoções que podemos vir a sentir são reações normais a essa nova situação que estamos aprendendo a viver e, portanto, é essencial identificá-las, mas não deixar que se tornem prejudiciais a nossa saúde.
Além de todas essas alterações emocionais alguns outros efeitos psicológicos dessa nova situação podem surgir como:
- Transtornos alimentares. Algumas emoções negativas podem levar a comportamentos alimentares excessivos, portanto podem surgir ou acentuar problemas relacionados com a comida como obesidade, compulsões alimentares, entre tantos outros.
- Aumento do consumo de bebidas alcoólicas. Ansiedade, depressão e insônia que aparecem ou se intensificam neste momento podem desencadear esse aumento.
- Estresse pós-traumático, que podem surgir meses ou anos mais tarde.
- Transtornos de ansiedade e humor, podem ser desencadeadas por pessoas com predisposição.
- Comportamentos regredidos. Algumas crianças podem manifestar comportamentos relacionados a etapas anteriores do desenvolvimento, como voltar a fazer xixi na cama, ter medo de adoecer, agressividade, dificuldades para dormir, entre outros.
Importante explorar quais são suas emoções que estão associadas a situação. Sinto medo, irritabilidade, angústia, tristeza? Desde quando? Qual a intensidade?
Você pode achar estranho, mas essa nova situação também pode gerar um efeito positivo. Vivíamos em uma agitação constante, sempre com pressa e com muitas obrigações, nesse momento foi nos permitido uma pausa ou pelo menos diminuir um pouco o ritmo, com isso podemos pensar sobre nós, quem somos, se há algo que gostaríamos de mudar, de melhorar, fazer ou aprender, algo que antes não tínhamos tempo, refletir sobre o significado das nossas relações e do nosso trabalho. Pode ser uma oportunidade para se reconectar consigo mesmo e com o que realmente importa para nós.
Que emoções estão predominando mais em você nesse novo modo de viver?
Caso perceba que não está conseguindo lidar com suas emoções é importante buscar ajuda de profissionais especializados. Psicólogos e psiquiatras podem oferecer um espaço de acolhimento e reflexão para ajudar você passar por esse momento, apesar do distanciamento social imposto, você não precisa estar sozinho para cuidar da sua saúde mental.
*Viviane Mariz Alencar é psicóloga clínica, parceira do Integrate Psicologia.
Comentarios